terça-feira, 2 de outubro de 2012

CFES NO PARANÁ - CONTRIBUIÇÃO ÉZIO FAGANELLO


Este texto foi extraído do Artigo apresentado ao Curso de Pós Graduação de Gestão Pública e Sociedade, Polo de Curitiba. 

No Termo de Referência encontramos qual a finalidade do CFES:

[...] orientar a implantação e funcionamento de Centros de Formação em Economia Solidária – CFES, como instrumentos de estruturação e potencialização das diversas ações formativas que atendam às necessidades dos empreendimentos econômicos solidários. Pretende-se desenvolver e integrar ações de formação sistemática de agentes formadores (multiplicadores), de sistematização de conteúdos e metodologias de formação em ES, de documentação e publicação de material didático e informativo e de articulação em rede de entidades e agentes formadores/as em ES. (SENAES/MTE, 2007, p. 1).

            E o objetivo geral:

Os CFES se destinam à formação de formadores(as), educadores(as) e gestores(as) públicos que atuam com economia solidária, contribuindo para fortalecer seu potencial de inclusão social e de sustentabilidade econômica, bem como, sua dimensão emancipatória. (SENAES/MTE, 2007, p. 4).

Na proposta de formação para formadores, fica claro que todo o processo acontece por meio da metodologia de construção social e coletiva e leva em consideração o reconhecimento das experiências e dos saberes dos trabalhadores, a valorização dos acúmulos, da diversidade e da pluralidade de iniciativas de formação em economia solidária, gestão participativa, educação popular, pedagogia da alternância, intersetorialidade e complementaridade.  
 Os principais eixos temáticos dos conteúdos formativos apresentados foram: história e perspectivas do trabalho emancipatório nos rumos das transformações societárias; constituição e organização da economia solidária; gestão dos empreendimentos econômicos solidários; processos de cooperação e comércio justo e solidário; marco jurídico da economia solidária; políticas públicas; participação cidadã e controle social; desenvolvimento local e territorial sustentável e outros temas.
No Paraná, um pequeno grupo de pessoas que milita no movimento da economia solidária aceitou o desafio de coordenar a realização dos cursos, encontros e oficinas que demandava o edital da SENAES/MTE, juntamente com a coordenação da Regional Sul.
 Em dois anos de CFES no estado, foram realizados quatro cursos, quatro encontros e oito oficinas, estas com representantes de empreendimentos solidários. Formadores deste estado puderam participar também dos seminários regionais (Porto Alegre RS) e nacionais (Distrito Federal). Aproximadamente 350 pessoas estiveram envolvidas nesse processo de formação em algum momento.
Descrevendo um pouco mais detalhado de como foi a formação no Paraná, o grupo que mobilizava e organizava os eventos, procurava seguir as orientações do termo de referência da SENAES, que era realizar as atividades por meio  do processo de construção  no coletivo. Antes de iniciar os cursos, encontros e oficinas, depois do reconhecimento do espaço, do momento de integração, das danças, e da aprovação da programação, eram formados os grupos autogestionários da criatividade, do cuidado, da memória e da avaliação para planejar e realizar as tarefas durante os eventos.
A sugestão de programação era construída pelo coletivo responsável de organizar o curso que, posteriormente, era apresentada na roda onde todos tinham a oportunidade de propor mudanças. Os eixos temáticos eram facilitados pelos membros do grupo que assumiam o papel, com o desafio de exercitar a troca de saberes entre todos, sobre o referido tema.
Algumas dificuldades que merecem reflexão no processo do CFES no Paraná: a) manter a continuidade dos mesmos participantes. Isto interferiu negativamente para a formação de um grupo coeso; b) o tempo demandado para cumprir a programação foi aquém do necessário. Pela proposta de construção conjunta, muitos dos temas a serem apresentados, ficaram prejudicados. Foi percebido pela coordenação o grande desafio de encontrar o equilíbrio entre o tempo e o tema quando a construção é autogestionário; c) houve pouco material produzido nos cursos e encontros; d) a proposta pedagógica a ser construída e seguida não se concluiu no período planejado; e) o grupo de sistematização teve grandes dificuldades de manter a mesma equipe de quando foi formada; f) dificuldade também de manter uma sequência que foi planejado no processo de formação; g) a carga horária para formar formadores foi insuficiente para atingir os objetivos.
Mesmo com essas dificuldades, a avaliação do coletivo do CFES no Paraná foi positiva. Exercitar esse novo jeito de compartilhar saberes e práticas, com o propósito de fortalecer o trabalho coletivo e ou autogestionário, possibilitou perceber que é possível a cooperação no espaço produtivo e nas relações. Além disso, o projeto trouxe um incentivo para os participantes buscarem uma mudança pessoal e na família, com destaque para o consumo consciente. Outro ponto importante: os participantes foram sensibilizados para viverem de forma mais simples e comunitária.
A metodologia e os materiais utilizados facilitaram a compreensão da proposta e o empoderamento da grande maioria dos formadores.
Nas práticas autogestionárias ficaram grandes aprendizados. Abaixo, frases de quem experimentou a metodologia:

“Estou feliz pela oportunidade de aprender com a prática do trabalho coletivo. Na minha avaliação os grupos conseguiram produzir resultados que provam que é possível a autogestão”.

“Autogestão é uma prática para melhorarmos nossas vidas. Quando trabalhamos em grupo a diversidade de ideias se amplia e os participantes se sentem úteis”.

“É necessário motivação e o grupo pode colaborar para que o trabalho aconteça de um jeito divertido”.

“Quando se propõe o trabalho coletivo é necessário ter objetividade, foco e compreensão do todo e não somente nas partes”.

 “Trabalhar sem ter alguém dando ordem é um grande desafio porque as pessoas que são diferentes na sua formação, no seu jeito de ver. Os valores que acompanham cada ser influenciam as tomadas de decisões e normalmente geram conflitos”.

“Participar de uma construção com a metodologia da autogestão é desafiante. Os envolvidos devem ter muita paciência. Devem se colocar na posição do outro para melhor compreensão. Amplia-se o leque de ideias e possibilidades, porém, a prática é morosa”.

“O tempo é um fator importante nos grupos autogestionários. As falas não são objetivas e com isso demora-se demais para desenvolver uma atividade. Muitas vezes, o que foi proposto, não se conclui e isso gera sentimentos negativos, de repulsa, desaprovação entre os envolvidos”.

“Muitas pessoas não conseguiram entender que aquilo que os cursos, encontros e oficinas ofereceram por meio  dos grupos autogestionários no CFES, já eram práticas de trabalho coletivo e que era possível experimentar e multiplicar em outros espaços”.

“O Curso do CFES possibilitou compreender que há outras formas de fazer. Agora todos juntos e ao mesmo tempo”.

“Para viver processos de trabalhos autogestionários é necessário compreender a comunicação”.

“O que me incomodou quando os grupos se formavam era que permanecia, por parte de alguns, a forma tradicional de gestão. Percebi concorrência e competição”.

“Decidir coletivamente na maioria das vezes não avança naquilo que é prioridade”.

“Me dei conta do quão é difícil sermos sucintos e práticos”.

“A grande vantagem do trabalho autogestionário é um mundo de ideias e possibilidades. Realizar já é outra questão”.

“Construir o novo é difícil, porém, prazeroso. Viver o trabalho autogestionário é ter a possibilidade de transformar a si mesmo e não apenas o objeto criado”.

“Os sentimentos que correm junto com o movimento da autogestão praticada no Cfes são como as moléculas da água. Os átomos da corrente elétrica que impulsionam”.

“Sobre o funcionamento dos grupos autogestionários, ainda percebo que precisamos nos desprender das tendências egoístas, dessa que esta impregnada na nossa personalidade, que foi imposta pelo modelo atual”.

“Com as práticas da autogestão e a sistematização, produziremos e dividimos”.

Finalizando sobre este tópico, a percepção é que o CFES trouxe avanços para a economia solidária no estado. Porém, para continuar, é necessária uma estrutura para que a rede de formadores continue atuando e agregando novos participantes, inclusive para que haja um maior comprometimento de todos. Assim sendo, haverá condições de ampliar e realizar a transição do modelo atual econômico para um modelo com valores e cultura que seja justo, solidário e sustentável. 

Nossos agradecimentos ao nosso companheiro Ézio Faganello pela importante contribuição ao CFES, que incluiu em sua pesquisa para apresentação do Artigo final a temática.

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