Este texto foi extraído do Artigo apresentado ao Curso de Pós Graduação de Gestão Pública e Sociedade, Polo de Curitiba.
No Termo
de Referência encontramos qual a finalidade do CFES:
[...] orientar a
implantação e funcionamento de Centros de Formação em Economia Solidária –
CFES, como instrumentos de estruturação e potencialização das diversas ações
formativas que atendam às necessidades dos empreendimentos econômicos
solidários. Pretende-se desenvolver e integrar ações de formação sistemática de
agentes formadores (multiplicadores), de sistematização de conteúdos e
metodologias de formação em ES, de documentação e publicação de material
didático e informativo e de articulação em rede de entidades e agentes
formadores/as em ES. (SENAES/MTE,
2007, p. 1).
E o objetivo geral:
Os CFES se
destinam à formação de formadores(as), educadores(as) e gestores(as) públicos
que atuam com economia solidária, contribuindo para fortalecer seu potencial de
inclusão social e de sustentabilidade econômica, bem como, sua dimensão
emancipatória. (SENAES/MTE, 2007, p. 4).
Na proposta de
formação para formadores,
fica claro que todo o processo acontece por meio
da metodologia de construção social e coletiva e leva em consideração o reconhecimento
das experiências e dos saberes dos trabalhadores, a valorização dos acúmulos, da diversidade e da pluralidade de iniciativas
de formação em economia solidária, gestão participativa, educação popular,
pedagogia da alternância, intersetorialidade e complementaridade.
Os principais eixos temáticos dos conteúdos
formativos apresentados foram: história
e perspectivas do trabalho emancipatório nos rumos das transformações
societárias; constituição e organização da economia solidária; gestão dos empreendimentos econômicos solidários;
processos de cooperação e comércio justo e solidário; marco jurídico da
economia solidária; políticas públicas; participação cidadã e controle social; desenvolvimento
local e territorial sustentável e outros temas.
No Paraná, um pequeno grupo de
pessoas que milita no movimento da economia solidária aceitou o desafio de
coordenar a realização dos cursos, encontros e oficinas que demandava o edital
da SENAES/MTE, juntamente com a coordenação da Regional Sul.
Em dois anos de CFES no estado, foram
realizados quatro cursos, quatro encontros e oito oficinas, estas com
representantes de empreendimentos solidários. Formadores deste estado puderam
participar também dos seminários regionais (Porto Alegre RS) e nacionais
(Distrito Federal). Aproximadamente 350 pessoas estiveram envolvidas nesse
processo de formação em algum momento.
Descrevendo um pouco mais
detalhado de como foi a formação no Paraná, o grupo que mobilizava e organizava
os eventos, procurava seguir as orientações do termo de referência da SENAES,
que era realizar as atividades por meio do processo de construção
no coletivo.
Antes de iniciar os cursos, encontros e oficinas, depois do reconhecimento do
espaço, do momento de integração, das danças, e da aprovação da programação,
eram formados os grupos autogestionários da criatividade, do cuidado, da
memória e da avaliação para planejar e realizar as tarefas durante os eventos.
A sugestão de programação era
construída pelo coletivo responsável de organizar o curso que, posteriormente,
era apresentada na roda onde todos tinham a oportunidade de propor mudanças. Os
eixos temáticos eram facilitados pelos membros do grupo que assumiam o papel,
com o desafio de exercitar a troca de saberes entre todos, sobre o referido
tema.
Algumas dificuldades que merecem
reflexão no processo do CFES no Paraná: a) manter a continuidade dos mesmos
participantes. Isto interferiu negativamente para a formação de um grupo coeso;
b) o tempo demandado para cumprir a programação foi aquém do necessário. Pela
proposta de construção conjunta, muitos dos temas a serem apresentados, ficaram
prejudicados. Foi percebido pela coordenação o grande desafio de encontrar o
equilíbrio entre o tempo e o tema quando a construção é autogestionário; c)
houve pouco material produzido nos cursos e encontros; d) a proposta pedagógica
a ser construída e seguida não se concluiu no período planejado; e) o grupo de
sistematização teve grandes dificuldades de manter a mesma equipe de quando foi
formada; f) dificuldade também de manter uma sequência que foi planejado no
processo de formação; g) a carga horária para formar formadores foi
insuficiente para atingir os objetivos.
Mesmo com essas dificuldades, a
avaliação do coletivo do CFES no Paraná foi positiva. Exercitar esse novo jeito
de compartilhar saberes e práticas, com o propósito de fortalecer o trabalho
coletivo e ou autogestionário, possibilitou perceber que é possível a cooperação no
espaço produtivo e nas relações. Além disso,
o projeto trouxe um incentivo para os participantes buscarem uma mudança
pessoal e na família, com destaque para o consumo consciente. Outro ponto
importante: os participantes foram sensibilizados para viverem de forma mais
simples e comunitária.
A metodologia e os materiais
utilizados facilitaram a compreensão da proposta e o empoderamento da grande
maioria dos formadores.
Nas práticas autogestionárias
ficaram grandes aprendizados. Abaixo, frases de quem experimentou a
metodologia:
“Estou feliz pela oportunidade de
aprender com a prática do trabalho coletivo. Na minha avaliação os grupos
conseguiram produzir resultados que provam que é possível a autogestão”.
“Autogestão é uma prática para
melhorarmos nossas vidas. Quando trabalhamos em grupo a diversidade de ideias
se amplia e os participantes se sentem úteis”.
“É necessário motivação e o grupo
pode colaborar para que o trabalho aconteça de um jeito divertido”.
“Quando se propõe o trabalho coletivo
é necessário ter objetividade, foco e compreensão do todo e não somente nas
partes”.
“Trabalhar sem ter alguém dando ordem é um
grande desafio porque as pessoas que são diferentes na sua formação, no seu
jeito de ver. Os valores que acompanham cada ser influenciam as tomadas de
decisões e normalmente geram conflitos”.
“Participar de uma construção com
a metodologia da autogestão é desafiante. Os envolvidos devem ter muita
paciência. Devem se colocar na posição do outro para melhor compreensão. Amplia-se
o leque de ideias e possibilidades, porém, a prática é morosa”.
“O tempo é um fator importante
nos grupos autogestionários. As falas não são objetivas e com isso demora-se
demais para desenvolver uma atividade. Muitas vezes, o que foi proposto, não se
conclui e isso gera sentimentos negativos, de repulsa, desaprovação entre os
envolvidos”.
“Muitas pessoas não conseguiram
entender que aquilo que os cursos, encontros e oficinas ofereceram por
meio dos grupos autogestionários no
CFES, já eram práticas de trabalho coletivo e que era possível experimentar e
multiplicar em outros espaços”.
“O Curso do CFES possibilitou
compreender que há outras formas de fazer. Agora todos juntos e ao mesmo
tempo”.
“Para viver processos de
trabalhos autogestionários é necessário compreender a comunicação”.
“O que me incomodou quando os
grupos se formavam era que permanecia, por parte de alguns, a forma tradicional
de gestão. Percebi concorrência e competição”.
“Decidir coletivamente na maioria
das vezes não avança naquilo que é prioridade”.
“Me dei conta do quão é difícil
sermos sucintos e práticos”.
“A grande vantagem do trabalho
autogestionário é um mundo de ideias e possibilidades. Realizar já é outra
questão”.
“Construir o novo é difícil,
porém, prazeroso. Viver o trabalho autogestionário é ter a possibilidade de
transformar a si mesmo e não apenas o objeto criado”.
“Os sentimentos que correm junto
com o movimento da autogestão praticada no Cfes são como as moléculas da água.
Os átomos da corrente elétrica que impulsionam”.
“Sobre o funcionamento dos grupos
autogestionários, ainda percebo que precisamos nos desprender das tendências
egoístas, dessa que esta impregnada na nossa personalidade, que foi imposta
pelo modelo atual”.
“Com as práticas da autogestão e
a sistematização, produziremos e dividimos”.
Finalizando sobre este tópico, a
percepção é que o CFES trouxe avanços para a economia solidária no estado.
Porém, para continuar, é necessária uma estrutura para que a rede de formadores
continue atuando e agregando novos participantes, inclusive para que haja um
maior comprometimento de todos. Assim sendo, haverá condições de ampliar e
realizar a transição do modelo atual econômico para um modelo com valores e
cultura que seja justo, solidário e sustentável.
Nossos agradecimentos ao nosso companheiro Ézio Faganello pela importante contribuição ao CFES, que incluiu em sua pesquisa para apresentação do Artigo final a temática.
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